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Princípios da Educação Online: para sua aula não ficar massiva nem maçante!

Há muitos anos temos praticado e pesquisado Educação a Distância e Educação Online, mas nunca poderíamos imaginar que, de um dia para o outro, ou as pessoas estariam aprendendo-ensinando pelas tecnologias digitais em rede, ou estariam com as aulas paralisadas por conta de um vírus (PIMENTEL, ARAUJO, 2020a). Acompanhamos, surpresos, o corre-corre de alguns colegas professores que não sabiam, ao certo, o que fazer: que abordagem pedagógica empregar?, que tecnologias utilizar?, com que conteúdos trabalhar?, como conversar com os alunos?, que situações de aprendizagem realizar?, como realizar a mediação docente?, como avaliar online?

Para cada uma dessas perguntas, que acreditamos serem as mais importantes para pensarfazer a educação em tempos de pandemia (e também na pós-pandemia), queremos apresentar as reflexões que fomos tecendo ao longo de nossos anos de prática e pesquisa na modalidade a distância empregando a abordagem da educação online. Organizamos em “princípios” as lições aprendidas até agora.

Princípios da Educação Online

Princípios da Educação Online

Este é um momento oportuno para discutirmos nossas práticas didático-pedagógicas, pois estamos vivenciando uma situação sem precedentes. Mesmo quem tem experiência com Educação a Distância sabe que a situação atual é diferente, há restrições e potencialidades que a difere do que usualmente se pratica na modalidade a distância. Queremos aproveitar este momento para abrir um diálogo para nos informarmos e nos formarmos no coletivo. É nessa perspectiva dialógica, para promover a partilha e a reflexão com esta comunidade, que apresentamos nossas proposições sobre educação online.

Como ponto de partida, para nos entendermos, precisamos diferenciar Educação a Distância (EAD), que é uma modalidade educacional alternativa à educação presencial, daquilo que denominamos de Educação OnLine (EOL), que é uma abordagem didático-pedagógica.

Na Educação a Distância, muitas vezes os computadores em rede são usados para difundir conteúdos e, em alguns casos, até mesmo para apresentar os conteúdos, corrigir automaticamente as respostas dos alunos, recomendar o estudo de novos conteúdos em função do desempenho, ou da personalidade ou do estado emocional do aluno, entre outras ações já possibilitadas pela inteligência artificial (JACQUES; NUNES, 2020; VICARI, 2020). Nessa concepção, frequentemente pensamos em um aluno estudando os conteúdos sozinho (autoaprendizagem, autoestudo), no “seu próprio ritmo”, e o computador sendo utilizado como uma “máquina de ensinar”, como preconizado por Skinner (~1960), o que fez emergir a crença de que os professores um dia serão substituídos por computadores. Nessa concepção, os computadores representam uma evolução das mídias e não modificam o modelo de comunicação de massa, predominantemente unidirecional, que tipicamente caracteriza a abordagem instrucionista-massiva que ainda hoje é muito praticada na modalidade a distância – não é essa a concepção pedagógica que estamos propondo para as suas aulas online!

Concepção pedagógica massivo-instrucionista frequentemente empregada na EAD

Alertamos que o “ruim” na modalidade presencial torna-se o “péssimo” na modalidade a distância: a abordagem instrucionista-massiva levada ao extremo por “cursos massivos online” (MOOC) resulta em altíssimos índices de evasão, com taxa de até 95% de abandono (SILVA; BERNARDO JR; OLIVEIRA, 2014). Ressaltamos que a modalidade a distância não implica necessariamente a adoção de práticas instrucionista-massivas; temos praticado, nessa modalidade, o que Edméa Santos (2009, 2019) denomina “Educação Online”:

Assumimos desde já que a educação online não é apenas uma evolução das gerações da EAD, mas um fenômeno da cibercultura. É comum encontrar na literatura especializada em educação e tecnologias que a educação online é uma evolução ou nova geração da modalidade de EAD. Discordamos, mesmo sem ignorar ou descartar essa possibilidade, com essa afirmativa simplista. […] A educação online é o conjunto de ações de ensino-aprendizagem ou atos de currículo mediados por interfaces digitais que potencializam práticas comunicacionais interativas e hipertextuais. (SANTOS, 2009, p. 5659,5663)

A proposição de efetivar uma Educação Online, como aqui caracterizada, parte da compreensão de que vivemos, hoje, em um (ciber)espaço-tempo propício à aprendizagem em rede: conectar-se, conversar, postar, curtir, comentar, compartilhar, colaborar, tornar-se autor, expor-se, negociar sentidos, co-criar … que outras palavras lhe vêm à mente quando falamos de valores e práticas que caracterizam a nossa (ciber)cultura contemporânea?

Eu, na cibercultura… a cibercultura em mim

Não estamos sozinhos nessas proposições – vários são os filósofos e pesquisadores que há décadas sustentam que vivenciamos um momento revolucionário em nossa sociedade, principalmente a partir de meados da década de 1990 com a abertura da internet para uso comercial, que a tornou acessível para a população em geral intensificando as transformações que os computadores em rede já estavam provocando em nossa sociedade (NICOLACI-DA-COSTA; PIMENTEL, 2011). Algumas de nossas inspirações:

Podemos/devemos (re)pensar nossos desenhos didáticos para o digital em rede nos inspirando nos valores e práticas da cibercultura. O cenário sociotécnico contemporâneo, de nossa cultura estruturada pelas tecnologias digitais em rede, vem nos desafiando a reconfigurar a educação formal para estarmos mais em sintonia com o “espírito de nosso tempo”. Os meios de comunicação de massa, unidirecionais, que foram característicos do século passado, hoje nos parecem datados, bem como nos parecem ultrapassadas as práticas pedagógicas instrucionista-massivas que muitas vezes são equivocadamente confundidas com a própria modalidade a distância.

Ao anunciar os “Princípios da Educação Online”, queremos mostrar a possibilidade de outras práticas didático-pedagógicas para a modalidade a distância. A seguir, apresentamos um resumo de cada um dos princípios (e nas próximas postagens vamos publicar um artigo sobre cada um deles – acompanhe a nossa série!). Embora apresentados um a um, os princípios estão correlacionados, são interdependentes, fazem parte de um conjunto coerente de concepções e ações necessárias para efetivar a Educação Online: não é possível promover aprendizagem colaborativa (4º princípio), se não houver conversação entre todos (5º princípio); para efetivar a colaboração (4º princípio) promovendo conversação (5º princípio) e coautorias (6º princípio), é preciso haver mediação docente ativa (7º princípio); atividades autorais (6º princípio) só fazem sentido quando o conhecimento é entendido como obra aberta (1º princípio); entre outras relações. A numeração dos princípios é apenas para facilitar a referência, pois não há uma ordem entre eles.

Princípio 1 – Conhecimento como “obra aberta” (em vez de “mensagem fechada”)
Conhecimento como obra aberta

O conhecimento científico é o resultado de uma construção social. Bruno Latour (2000) descreveu o processo social de construção de conhecimentos científicos como uma dinâmica em que diferentes atores disputam narrativas capazes de explicar um fenômeno em investigação, inicialmente cheios de incertezas, até que as controvérsias vão sendo encerradas e o conhecimento se fecha em “fato científico”, indiscutível (uma “caixa preta”), pronto para ser difundido na sociedade como uma verdade… até que um discordante reabra as controvérsias. O conhecimento científico, portanto, embora possa ser divulgado como fechado, está sempre sujeito a reabertura, a novas teceduras. Na Educação Online, partimos dessa concepção epistemológica do conhecimento como “obra aberta” (ECO, 1962), possível de ser ressignificado e cocriado, num movimento sem fim. Quando o conhecimento é entendido como produto acabado, fechado, só resta aos alunos assimilarem sem questionar os conteúdos que um professor ou o computador apresenta, numa perspectiva bancária de educação que há décadas temos combatido (ARAUJO; PIMENTEL, 2020):

Em lugar de comunicar-se, o educador faz “comunicados” e depósitos que os educandos, meras incidências, recebem pacientemente, memorizam e repetem. Eis aí a concepção “bancária” da educação, em que a única margem de ação que se oferece aos educandos é a de receberem os depósitos, guardá-los e arquivá-los. […] Nesta distorcida visão da educação, não há criatividade, não há transformação, não há saber. Só existe saber na invenção, na reinvenção, na busca inquieta, impaciente, permanente, que os homens fazem no mundo, com o mundo e com os outros. (FREIRE, 1970, p 80-81)

Princípio 2 – Curadoria de conteúdos + sínteses e roteiros de estudo (em vez da produção de conteúdos próprios para EAD)
Curadoria de conteúdos

Na atualidade, quando queremos aprender algo, geralmente consultamos a web: fazemos uma busca no Google, navegamos nas páginas interconectadas da Wikipédia, assistimos a uma videoaula no YouTube, consultamos uma apresentação compartilhada no SlideShare, lemos uma matéria num blog, baixamos um artigo científico, consultamos páginas no Facebook, escrevemos perguntando para um amigo ou para um grupo no WhatsApp, entre outras táticas (PIMENTEL, 2019). A web se tornou nossa principal fonte de conhecimento, com conteúdos online em múltiplas linguagens e formatos disponíveis a um clique de distância. Considerando a abundância de conteúdos disponíveis online relacionados a nossas aulas, nós, professores, podemos desempenhar o papel de “curadores”.

“Curadoria de Conteúdo é um termo que descreve o ato de encontrar, agrupar, organizar ou compartilhar o melhor e mais relevante conteúdo sobre um assunto específico” (BHARGAVA, 2011). O professor, ao realizar a curadoria, está mapeando, organizando e dando visibilidade a determinados conteúdos. Conjugado com a curadoria, pode ser adequado realizar sínteses, seja no formato de uma apresentação ou de um pequeno texto interligando os conteúdos mapeados, o que resulta em roteiros de estudo. Além disso, por considerarmos o conhecimento como obra aberta e tecido colaborativamente, também devemos considerar os conteúdos produzidos pelos próprios alunos da turma.

A curadoria de conteúdos online se contrapõe às práticas de produção de conteúdos específicos para a EAD, sejam livros impressos (BARRETO et al., 2007), weblivros (PIMENTEL; SANTOS; SAMPAIO, 2017), vídeos (SOUZA, 2017) etc. A produção de conteúdos novos é uma estratégia válida e custosa, mas não é a única alternativa.

Princípio 3 – Ambiências computacionais diversas (em vez de se restringir aos serviços do Ambiente de Aprendizagem)
Ambiências computacionais

Na modalidade a distância, é fundamental a adoção de um Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA), como Moodle, Google Classroom, Canvas, Grupo de Aprendizagem Social do Facebook, entre outros (GOMES; PIMENTEL, 2020). Contudo, a grande ênfase que é dada para o uso de AVA na modalidade a distância acabou disseminando uma cultura de confinamento e exclusividade, a tal ponto que os professores na EAD chegam a supor ser proibido usar outros sistemas computacionais, acreditando que tudo deva ser realizado dentro do AVA. Queremos combater essa ideia equivocada.

Toda a Internet se apresenta como um vasto território com inúmeros (ciber)espaços que podem ser configurados para a criação de ambiências voltadas para a realização de situações de aprendizagem. Se os AVA foram os sistemas computacionais característicos da 1ª fase da Educação Online (SANTOS; RIBEIRO; CARVALHO, 2020), hoje devemos nos apropriar também de outros sistemas computacionais, pois não há quaisquer impedimentos em também utilizar serviços interativos online, aplicativos, redes sociais, editores colaborativos, entre tantas possibilidades ao nosso dispor.

Princípio 4 – Aprendizagem em rede, colaborativa (em vez de aprendizagem isolada)

Quando o processo educacional se realiza mediado pelos computadores em rede, nossas práticas e reflexões nos levam a recomendar a aprendizagem em rede, colaborativa (TORRES; IRALA, 2014; PIMENTEL; FUKS, 2011; FUKS et al., 2011). Não se trata de colocar os alunos para discutirem os conteúdos de uma disciplina apenas entre eles, sem um professor. Trata-se de construir o conhecimento colaborativamente, em grupo, valorizando-se os múltiplos saberes de cada aluno da turma com a mediação de um bom professor. Nessa concepção, os computadores em rede são usados como meios de interação social, não como máquinas para ensinar, mas sim para conectar as pessoas.

Princípio 5 – Conversação entre todos, em interatividade (em vez de apresentação de conteúdos)
Conversação entre todos

A exposição de conteúdos pelo “ditar do mestre”, em que os alunos só podem falar eventualmente para tirar uma dúvida sobre o que foi exposto, não caracteriza uma conversação genuína. A conversação precisa estar aberta para o imprevisível e se realizar na interatividade com os alunos e entre eles (SILVA, 2000). Cabe ao professor o planejamento da situação conversacional e sua realização por meio de uma ambiência computacional, lançando mão de serviços variados de conversação pela internet (PIMENTEL, ARAUJO, 2020b). Por exemplo, podemos utilizar um sistema de videoconferência para realizarmos reuniões síncronas no horário que seria ocupado pela aula presencial; criar um grupo do WhatsApp para a conversação informal e para a coordenação da turma; discutir os assuntos da disciplina por meio de grupos e fóruns de discussão ao longo da semana; usar bate-papo online (chat) para levantar diferentes pontos de vista sobre um assunto; realizar atendimento individualizado por mensagem instantânea e email; entre outras possibilidades a serem arquitetadas para promover a conversação na turma.

Princípio 6 – Atividades autorais inspiradas nas práticas da cibercultura (em vez de “estudo dirigido”)
Atividades Online

Em geral, os alunos gostam de atividades práticas, pois sentem que “só se aprende fazendo”. Atividades práticas e autorais (AMARAL; VELOSO; ROSSINI, 2020) oportunizam ao aluno aplicar e transformar os conhecimentos da disciplina, ressignificando-os. Como alternativas para a educação bancária de exposição-assimilação de conteúdos, além da própria Educação Online que propõe práticas autorais inspiradas nas práticas da cibercultura, também reconhecemos outras iniciativas, como Aprender Fazendo/Aprendizagem Experiencial (DEWEY, 1916), Educação do Trabalho (FREINET, 1949), Pedagogia Baseada em Projetos (BENDER, 2015), Metodologias Ativas (BACICH; MORAN, 2018), Sala de Aula Interativa (SILVA, 2000), Sala de Aula Invertida (BERGMANN; SAMS, 2018), entre outras proposições pedagógicas.

Queremos marcar a diferença das atividades inspiradas em práticas da cibercultura daquelas atividades que se caracterizam como uma lista de exercícios ou um questionário, cujo objetivo é “fixar” os conteúdos da disciplina, como frequentemente praticado na educação instrucionista-massiva. Ressaltamos a importância de atividades criativas que possibilitem a autoria criadora (BACKES, 2012) e que promovam multiletramentos (FERNANDES; MACIEL; SANTOS, 2020; BUZATO, 2006). Em tempos de cibercultura, com a “liberação do polo de emissão” (LEMOS, 2007), todos nós nos tornamos autores em potencial. Nesse atual cenário sociotécnico, nós, professores, somos desafiados a formar alunos capazes de ler criticamente o mundo e também de atuar como autores transformadores da sociedade contemporânea (LEMOS, 2010).

Princípio 7 – Mediação docente online para colaboração (em vez de “tutoria reativa”)
Mediação docente online para colaboração

Para efetivar a educação online, é necessário realizar uma mediação ativa voltada para a promoção da colaboração (SANTOS; CARVALHO; PIMENTEL, 2016), em que o professor desempenha o papel de dinamizador do grupo. Onde há colaboração e conversação em rede, emergem dúvidas e conflitos que precisarão ser mediados pelo professor e pelos colegas. Recomendamos a realização de uma mediação partilhada e empregando uma “linguagem emocional” (LIMA; CARVALHO; COUTO JR, 2018; BRUNO, 2008), reconhecendo que as emoções expressadas nas conversas potencializam transformações no convívio social que se desdobram também no processo formativo.

Sugerimos evitar a prática da “tutoria reativa” (CASTRO; SANTOS, 2010), muito empregada na EAD instrucionista-massiva, em que um professor-tutor fica disponível por 1 ou 2 horas por semana para tirar dúvidas de centenas de alunos. Esse tipo de prática leva a um esvaziamento da participação dos alunos, resultando em desperdício e desvalorização do trabalho docente.

Princípio 8 – Avaliação formativa e colaborativa, baseada em competências (em vez de apenas exames presenciais)
Avaliação online

A modalidade a distância potencializa novas formas de avaliação. Os rastros que os alunos deixam nas ambiências digitais ao participar das situações de aprendizagem arquitetadas pelo professor possibilitam a realização de uma avaliação com base em competências, valorizando não apenas os conhecimentos (saber o que as coisas são, os conceitos, as fórmulas), mas também as habilidades (o saber fazer, o conhecimento em ação) e as atitudes: presença, participação e colaboração. Idealizamos a realização da avaliação online como uma ação coletiva, realizada não apenas pelo professor (heteroavaliação), mas também pelo próprio aprendente (autoavaliação) e por todos da turma (avaliação colaborativa, avaliação 360º), fugindo da resposta certo-errado e voltando-se para a valorização dos diferentes olhares, da compreensão e da crítica de todos os envolvidos no processo formativo. Que a avaliação seja feita numa perspectiva formativa, de maneira contínua, voltada não apenas para aprovar ou reprovar ao final da disciplina, mas sim para apoiar a tomada de consciência sobre o próprio processo de aprendizagem em curso, de tal maneira que os alunos percebam o que já aprenderam bem, o que precisam aprender mais e quais ações formativas devem realizar.

Avaliação online

A avaliação, na perspectiva da Educação Online, é um desafio, pois a prática mais difundida de avaliação é a prova presencial, geralmente voltada para o exame do conhecimento assimilado pelo aluno, com uma correção feita somente pelo professor com a intensão de classificar o aluno em aprovado/reprovado. Essa concepção de avaliação parte da perspectiva epistemológica do conhecimento como “mensagem fechada” (em vez de “obra aberta” – 1º princípio), podendo até desmotivar o aluno a participar e colaborar (4º princípio), a realizar autorias e coautorias em rede (6º princípio). Deve-se planejar uma avaliação com base nas atividades realizadas nos diversos sistemas computacionais utilizados na disciplina (3º princípio), visando a promoção de uma atitude para a interatividade (5º princípio) e considerando, nas conversas e nas autorias, as expressões do aprendizado dos alunos sobre os conteúdos e para além deles (2º princípio), o que apoia a mediação pedagógica (7º princípio) (SILVA; SANTOS, 2006; SANTOS; LIMA, 2016; ARAÚJO, 2018; ARAÚJO, 2013).

É possível praticar os princípios da educação online na modalidade a distância?
Reconhecemos que a modalidade a distância “pode ser mais bem entendida a partir de princípios que regem a produção industrial, especialmente os de produtividade, divisão do trabalho e produção em massa” (BELLONI, 2012), e que, nessa modalidade, frequentemente é induzida a adoção da abordagem pedagógica instrucionista-massiva e “não acolhe propostas com outras concepções, eliminando, assim, a possibilidade de reconhecimento do trabalho profissional do professor na modalidade a distância” (LAPA; PRETTO, 2010). Mas, insistimos, a modalidade a distância não implica necessariamente a abordagem instrucionista-massiva.

Reconhecemos, também, a urgência de políticas públicas que garantam a inclusão digital (e cibercultural) de todos os alunos, pois a ONU já declarou que o acesso à internet é um direito universal e, no Brasil, o “direito de acesso à internet a TODOS” é parte do nosso Marco Civil da Internet desde 2014 (Lei 12.965/14). Sem esse acesso, fundamental para o exercício da cidadania em nossa atual sociedade estruturada pelas tecnologias digitais em rede, temos visto instituições de ensino interromperem as aulas, gestores voltarem-se para os valores e práticas características da comunicação de massa típica do século passado (como usar a televisão para a disseminação de conteúdos), e professores adotarem inadvertidamente práticas instrucionista-massivas levando em consideração a abordagem hegemônica da EAD.

Reconhecemos, por fim, a necessidade de promover a formação de professores para o exercício responsável da docência online. Esperamos que este texto seja uma contribuição nesse sentido, para que as aulas online, na modalidade a distância, não sejam nem massivas nem maçantes. Sabemos, contudo, que é preciso construir muitos outros saberes para o exercício da docência online.

Se você teve fôlego para ler até aqui, é porque considerou úteis as discussões iniciadas nesta postagem. Se você curtiu, então compartilhe nas suas redes sociais; vamos viralizar os princípios da educação online, fazer este texto chegar a outros professores que estão muito além das redes sociais dos próprios autores – afinal, essa também é uma prática da cibercultura, que tanto nos inspirou e nos motivou a produzir as reflexões aqui apresentadas.
Fonte: Horizontes

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